Dia do Surdo
Por
Ariane Silva Rabelo
JORNAL
D’HOJE interior – S. J. Rio Preto – 25/09/2016
No
Brasil, em 26 de Setembro é comemorado o dia nacional do Surdo, data esta
instituída pela Lei nº 11.796/2008, neste texto, aproveito o momento festivo
para refletir sobre os direitos da pessoa surda e se esta têm os seus direitos
garantidos e respeitados.
E
para falar sobre do povo surdo, é preciso também falar sobre a Língua
Brasileira de Sinais – LIBRAS, língua reconhecida pela Lei nº 10.436/2002 como
meio de comunicação e expressão da comunidade surda brasileira. Sim, os surdos
têm uma Língua! E esta língua é para eles o que a Língua Portuguesa é para nós,
ouvintes, a principal forma de se comunicar e conhecer o mundo! E sem ela como
pode ele ter acesso aos seus direitos constitucionais, tais como, educação,
saúde, trabalho entre outros direitos sociais?
A
legitimidade desta data comemorativa nos mostra que a luta da comunidade surda,
é legítima e pouco a pouco estamos
conquistando espaço.
Nos
dias atuais, ainda há pessoas que compreendem a surdez tal como definiu Aristóteles
na antiguidade: indivíduos surdos seriam incompetentes por não apresentarem a linguagem
oral e, para o filósofo grego, a expressão dos pensamentos era o que atribuía condição
humana ao indivíduo e, no caso dos indivíduos surdos, isso não seria possível,
uma vez que eles não poderiam se utilizar da oralidade.
Contudo, Sócrates, que antecedeu a Aristóteles,
tinha uma visão diferente sobre este assunto. Segundo a pesquisadora Maria Cecília
de Moura, Sócrates questionava se, sem linguagem oral, a pessoa surda poderia,
por exemplo, transmitir o que sente através de suas mãos, pés, cabeça e outras
partes do corpo. O pensamento de Sócrates é o que chega mais próximo das
definições atuais que reconhecem a Língua de Sinais como meio de comunicação da
pessoa surda e, por isso mesmo, parte integrante de sua cultura.
Às
vezes, temos a impressão de ver uma repetição histórica, e podemos perceber
que, de certo modo, os pensamentos socráticos e aristotélicos foram se
perpetuando ao longo da história até que, vejam só, a Língua de sinais foi
banida, em 1880, no congresso de Milão.
A
historia dos surdos é magnífica, convido todos a pesquisarem e desfrutarem um
pouco da sua grandiosidade, vale muito a pena.
A
proibição do congresso de Milão seguiu forte por muito tempo, entretanto, esse
cenário modificou-se progressivamente, conforme foram avançando as pesquisas
sobre a Língua de Sinais, o que contribuiu para o seu reconhecimento como
código complexo e como língua genuína.
Em
2002, como já mencionado, nosso país legitimou a LIBRAS e, três anos depois, o
Decreto nº 5.626 dispõs, dentre outras
coisas, sobre a inclusão da Libras como Disciplina Curricular, sobre a formação
de profissionais interpretes e guia-interpretes para surdos-cegos, sobre uso e
difusão da Libras e da Língua Portuguesa para o acesso das pessoas surdas à
educação, e sobre a garantia à educação da pessoa surda.
Nós,
comunidade surda, lutamos por uma escola bilíngue pública e de qualidade, pela
garantia do direito à saúde, por Tradutores e Intérpretes de Libras (TILS) nas
escolas, nos bancos, nos hospitais, consultórios médicos, pelo tratamento clínico
e especializado, respeitando as especificidades de cada caso, e por orientações
às famílias sobre as implicações da surdez, bem como sobre a importância para a
criança com perda auditiva de ter, desde o nascimento, acesso à Libras e à Língua
Portuguesa.
E,
além disso, é imprescindível que poder
publico e das empresas que detêm a concessão ou a permissão de serviços
públicos no apoio ao uso e difusão da Libras.
Portanto,
diante desta data tão especial, gostaria de motivar os leitores a estarem
conosco nesta luta por condições dignas para os surdos. As mãos que acariciam,
são as mesmas mãos que podem nos falar ao coração.
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